Segunda-feira, 5 de Julho de 2004
Foi em Julho de 1986, que a direcção do Grupo de Solidariedade Social, Desportivo, Cultural e Recreativo de Miro, resolveu preencher uma das lacunas que mais se fazia sentir no seu seio, criando para o efeito um Rancho folclórico, por forma a poder transmitir aos mais novos, e aqueles que nos visitam, os usos e costumes existentes na região, os quais se vinham dissipando através dos tempos.
Só em 1989, após pesquisa e recolhas, junto de pessoas mais idosas, iniciou a sua actividade, através de actuações, de Norte a Sul do país.
A partir de Dezembro de 2003, passou a secção autónoma do Grupo, com nº de contribuinte e a reger-se por estatutos próprios, com objectivos definidos.
O Rancho Típico de Miro Os Barqueiros do Mondego, é um grupo constituído por cerca de 40 elementos, sendo 9 pares de dançarinos, 11 elementos na tocata, outros tantos no coro e nas representações.
A maior parte do elementos do Rancho vestem trajes de trabalho, dos quais destacamos: O Barqueiro do Mondego, O Calafete, O Carreiro, O Agricultor, O Carvoeiro, O Pescador, O Estanqueiro, O Lenhador, As Lavadeiras e as Tratadoras de linho. Também representam os trajes de Noivos ricos, Os Romeiros, A Mordoma, e o par de Namorados com fato Domingueiro.
Na tocata prevalecem os instrumentos de corda, visto que na região onde nos inserimos, não ser usual o acordeão.
As danças apresentadas são: A Ciranda, Pé em ponto, Cigarra, Senhora das candeias, Pião, Limão verde limão, Papagaio, Ai ó Manuel, Vira da região, Dobadoira e a Cobra na relva verde.
Porquê Os Barqueiros do Mondego?
Porque o rio Mondego era preferencialmente usado, dando emprego a muita gente das suas proximidades, uma grande percentagem da população de Penacova, o rio Mondego foi a única via de comunicação importante que a região teve até princípios do século XX, dedicando-se sempre à barcagem e actividades ligadas ao rio: Barqueiros, Calafetes, Carreiros, Estanqueiros, etc.
O Barqueiro do Mondego, tinha como função conduzir a Barca serrana, no transporte de lenha, carqueja e carvão para Coimbra ou Figueira da Foz. No sentido inverso, era possível receber mercadorias por mar e embarca-las rio acima. Assim, para além de peixe (seco ou salgado), sal, louça de Coimbra, vinho, etc. Paralelamente com o transporte de mercadorias, também transportavam lentes e estudantes da Universidade de Coimbra, que iam passar férias às suas terras Natais.
O Barqueiro do Mondego, provocava a deslocação da Barca serrana, com ajuda de remos, da vela, da corrente do rio e por vezes das varas ( quando havia menos água), espetando-as no fundo do rio e andando pelo bordo, apoiando a vara contra o lado do peito, virados para a ré. Tinham que colocar um pano grosso, para protegerem o peito, mas mesmo assim fazia mossa.
O traje do Barqueiro do Mondego era: Ceroulas até aos joelhos, uma camisola de lã, um colete, um garroço para o frio e os pés descalços ou com alpercatas de pano.
Para dormir, as barcas serranas ou barcos possuíam na proa ou na ré, umas cavidades Leito, onde os barqueiros dormiam, sendo o colchão de esteiras de palha, colocados por cima do estrado, e tendo como cobertores, a vela ou sacos, e dormiam com os pés para o bico.
Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria. Dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. Porto este que diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva.
Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois Os Carreiros, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortagua e Oliveira do Hospital.
Nos portos de Coimbra, os barqueiros quando procediam ao carregamento ou descarregamento das barcas, tinham de calçar as alpercatas de pano, se fossem apanhados descalços pelos guarda rios, eram multados, se porventura andassem com um pé calçado e outro descalço, pagavam metade da multa.